Desinformação complicou investigação de ataque armado em universidade nos EUA, afirma polícia
Autoridades do estado de Rhode Island, nos Estados Unidos, denunciaram que a desinformação dificultou a busca pelo responsável pelo ataque armado no qual dois estudantes morreram e outros nove ficaram feridos na Universidade Brown.
Cláudio Neves Valente, um português de 48 anos que frequentou a instituição da Ivy League décadas atrás, foi identificado como o suspeito. Ele foi encontrado morto com um ferimento de bala autoinfligido em um galpão no estado de New Hampshire. As autoridades afirmaram que ele agiu sozinho.
Mas, ao longo da semana, contas anônimas de direita no X fizeram publicações sem fundamento assegurando que o suposto responsável era um estudante palestino, uma narrativa que se intensificou quando foram removidas páginas do site da universidade nas quais aparecia seu nome.
"As investigações criminais se baseiam em evidências, não em especulações nem em comentários na internet", disse o coronel Darnell Weaver, superintendente da polícia estadual de Rhode Island, em entrevista coletiva na quinta-feira à noite (18), na qual foi divulgada a identidade de Neves Valente.
"A enxurrada interminável de informações falsas, desinformação, rumores, vazamentos e conteúdo enganoso para gerar cliques não ajudou nesta investigação. Distrações e críticas infundadas não dão suporte a esse trabalho. Elas complicam e ameaçam prejudicar a justiça que buscamos", acrescentou.
As acusações contra o estudante Mustapha Kharbouch começaram quando uma conta anônima no X publicou suas fotos e vídeos na segunda-feira, junto com imagens do suspeito divulgadas pela polícia.
Em questão de horas, o e-mail e a foto de Kharbouch se espalharam pelas redes sociais, provocando ameaças de morte e de deportação contra ele.
Antes da identificação de Neves Valente, um integrante de uma agência policial local envolvida na investigação disse à AFP que Kharbouch nunca foi citado nas averiguações.
- 'Atividade prejudicial' -
Depois que a imprensa publicou o nome de um veterano que havia sido detido e depois liberado, as redes sociais se encheram com sua imagem, e também com fotos de outra pessoa com o mesmo nome.
As autoridades tentaram conter o ruído à medida que a investigação avançava. Advertiram que a manipulação por inteligência artificial das imagens que circulavam poderia provocar mais acusações equivocadas.
Uma declaração da Universidade Brown condenou a "atividade prejudicial" de publicar dados privados on-line, prática conhecida em inglês como "doxxing". Um porta-voz confirmou à AFP que o posicionamento se referia a Kharbouch.
O procurador-geral de Rhode Island, Peter Neronha, disse no mesmo dia que "se esse nome significasse algo para a investigação, estaríamos procurando por ele". Mas as acusações continuaram.
Christina Paxson, presidente da Universidade Brown, afirmou que o ataque e suas consequências foram "devastadores" para os que foram "alvo de rumores e acusações na internet".
"Espero que esse desdobramento [do caso] signifique o fim dessa atividade verdadeiramente preocupante", afirmou após a divulgação da identidade de Neves Valente.
O.Meyer--HHA