UE flexibiliza proibição da venda de carros a gasolina e diesel a partir de 2035
A União Europeia (UE) flexibilizou, nesta terça-feira (16), a proibição da venda de carros novos a gasolina e diesel a partir de 2035, em uma tentativa de apoiar os fabricantes europeus em dificuldades.
Após essa data, os fabricantes poderão continuar vendendo um número limitado de veículos novos com motores a combustão ou híbridos, desde que cumpram uma série de condições, como compensar as emissões de CO₂, indicou a Comissão Europeia.
Segundo o comissário Stéphane Séjourné, a UE não abdica de suas ambições climáticas, mas adota uma abordagem "pragmática" diante das dificuldades pelas quais passa a indústria automobilística.
"O objetivo continua sendo o mesmo; a flexibilidade é uma realidade pragmática que leva em conta a aceitação dos consumidores e a dificuldade dos fabricantes em oferecer ao mercado veículos 100% elétricos até 2035", afirmou em entrevista à AFP.
A proibição era uma medida emblemática do Pacto Verde Europeu e foi adotada durante o primeiro mandato de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia, como parte do compromisso da UE de alcançar a neutralidade em emissões de carbono até 2050.
No entanto, diante da concorrência da China e das tensões comerciais com os Estados Unidos, a UE adiou ou reduziu várias medidas ambientalistas nos últimos meses, em uma guinada a favor das empresas.
Em vez da proibição inicial, os fabricantes terão de reduzir, a partir de 2035, 90% das emissões de CO₂ das suas vendas face aos níveis de 2021 e compensar os 10% restantes. Bruxelas assegura assim que o setor estará completamente descarbonizado nessa data.
Os fabricantes europeus vinham há meses exigindo “flexibilidade” em um contexto de queda de vendas, enquanto seus rivais chineses, entre eles a BYD, aumentam rapidamente a sua participação de mercado com modelos elétricos a preços competitivos.
A Comissão Europeia e os Estados-membros vinham negociado intensamente nas últimas semanas as medidas anunciadas nesta terça-feira.
Após o anúncio, Friedrich Merz, chefe do governo alemão, o país europeu com a maior indústria de automóveis, afirmou que a mudança vai "pelo caminho certo".
Por outro lado, a França lamentou as medidas. A ministra da Transição Ecológica, Monique Barbut, declarou à AFP que Paris fará "todo o possível" para revertê-las.
O Greenpeace, por sua vez, criticou a "mudança de rumo" europeia. "Esta política industrial regressiva é uma má notícia para o emprego, a qualidade do ar e o clima, e atrasaria a oferta de carros elétricos acessíveis", disse Martin Kaiser, diretor executivo do Greenpeace Alemanha.
- Veículos profissionais mais verdes -
Países como Alemanha, Itália e Polônia defendiam a "neutralidade tecnológica", ou seja, manter os motores de combustão para além de 2035, e sugeriam tecnologias que emitem menos CO₂, como os híbridos plug-in, e o uso de combustíveis alternativos.
Por outro lado, França e Espanha instaram a UE a desviar-se o mínimo possível da meta de 2035.
Na sua opinião, recuar na proibição dos veículos com motor térmico prejudicaria os investimentos substanciais dos fabricantes para a transição para veículos 100% elétricos. Poderia também sufocar o setor europeu de baterias para veículos elétricos, em plena expansão.
Nesse sentido, a Comissão anunciou nesta terça-feira, além da revisão da meta de 2035, novas medidas de apoio a este setor emergente e um plano para tornar as frotas profissionais mais "ecológicas".
O comissário Séjourné também confirmou a instauração da "preferência europeia" no setor automobilístico, ou seja, a obrigação de que os fabricantes que recebam financiamento público se abasteçam de componentes feitos na Europa.
Pretende também incentivar o desenvolvimento de pequenos veículos elétricos com preços "acessíveis", um projeto anunciado em setembro por Ursula von der Leyen "para impedir que a China e outros dominem este mercado".
F.Schneider--HHA